A travessia dos sonhos - pREÁ > aTINS (~350km)

Recentemente finalizamos uma kitetrip inesquecível com a Mané Kite.
Essa experiência é o verdadeiro sonho do kitesurfista: velejar por quilômetros de mar aberto, atravessar estados, descobrir vilarejos isolados, acessar lugares que só se chega de barco ou de kite.

Mas vai muito além do esporte. Essa viagem é uma imersão cultural no Brasilzão, um mergulho em paisagens intocadas, comunidades ribeirinhas, gastronomia local e o contato direto com a força da natureza.
É também um grande desafio físico e mental: uma travessia cansativa, dura de superar, mas recompensadora como poucas experiências na vida. Cada chegada é uma conquista — e cada conquista traz uma sensação de plenitude que só quem faz entende.

Nosso ponto de partida foi a base da escola, na praia do Preá, ao lado da mítica Jericoacoara. Dali, começou nossa jornada de sete dias de puro kite e aventura.


Dia 1 – Preá até Maceió (Camocim)

O primeiro dia já é de tirar o fôlego. Partimos do Preá e seguimos passando por Jericoacoara, cartão-postal mundialmente famoso, e seguimos até o Guriú, onde o rio encontra o mar em meio ao mangue e às dunas.
De lá, continuamos até Tatajuba, uma vila de pescadores que parece parada no tempo. Ali, dependendo do nível e disposição do grupo, é possível dividir o trajeto e pernoitar, aproveitando a vibe tranquila do lugar.

Para os mais animados, seguimos direto até a praia de Maceió, em Camocim. É uma jornada longa, mas a sensação de deslizar com o vento constante, passando por paisagens que alternam dunas, falésias e manguezais, é simplesmente inesquecível.


Dia 2 – Maceió (CE) até Barra Grande (PI)

Esse é o dia da travessia de estado: saímos do Ceará e chegamos ao Piauí.
O último povoado cearense é Bitupitá, onde encontramos nossa caminhonete de apoio para um pit-stop estratégico.
Dali, atravessamos a divisa natural entre os estados e seguimos até Barra Grande, no Piauí — um destino que se tornou queridinho entre kitesurfistas do mundo todo.

Barra Grande tem uma vibe única: ruas de areia, pousadas charmosas, restaurantes de alta qualidade e, claro, ótimas condições de vento.
Um dos destaques da região é o Macapazinho, spot famoso por sua água flat cristalina e pelo velejo entre os mangues, um cenário totalmente diferente e especial para treinar manobras, brincar no espelho d’água e sentir a natureza de perto.


Dia 3 – Barra Grande (PI) até Canárias, Delta do Parnaíba (MA)

Aqui começa uma das etapas mais desafiadoras e emocionantes da trip. São 75 a 80 km de downwind, percorridos em cerca de 4 a 5 horas de velejo.
Nesse dia, atravessamos longas praias, com trechos praticamente desertos, e precisamos contornar alguns obstáculos, como o famoso píer de Luis Correia, que se estende 3 km mar adentro — e que devemos passar por fora, em segurança.

É também o dia de uma transição marcante: nos despedimos do Piauí e entramos no incrível Maranhão. A mudança de cenário é visível e emocionante: a cor da água muda, a vegetação se transforma e o horizonte se abre para o território mágico do Delta do Parnaíba, o único delta das Américas a desaguar diretamente no mar.

A chegada à ilha de Canárias é desafiadora: a maré e o vento podem dificultar o acesso, mas contamos com nosso barco de apoio para garantir que tudo aconteça em segurança.
Canárias é uma pequena comunidade ribeirinha, isolada do mundo, acessível apenas por água ou por kite. A hospitalidade e a simplicidade dos moradores tornam a experiência ainda mais especial.


Dia 4 – Canárias até Morro do Meio (Delta do Parnaíba)

Um dia quase de descanso, mas que esconde uma das travessias mais bonitas da viagem.
Nosso barco nos leva até a foz do delta, onde o rio encontra o mar, e dali seguimos de kite por um braço do rio. São cerca de 35 km de água flat, margeados por dunas e formações de areia que parecem pinturas.

Esse trecho é perfeito para relaxar, brincar, evoluir nas manobras e absorver a beleza do lugar. O velejo dura cerca de 2h30, feito em ritmo tranquilo.
No final, nosso barco já estará nos esperando para nos levar até a pousada, de frente para o rio. À tarde, ainda vivemos um espetáculo único: a famosa Revoada dos Guarás, quando centenas dessas aves vermelhas cruzam o céu ao entardecer, pintando o horizonte.


Dia 5 – Morro do Meio até Tutóia

Seguimos pelo litoral do Delta, numa rota de cerca de 50 km até chegar em Tutóia, já no Maranhão.
Esse dia é um pouco mais puxado que o anterior, mas ainda assim fluido e prazeroso. O vento segue constante, o cenário muda aos poucos, e a sensação de estarmos completando uma grande travessia vai crescendo.

Em Tutóia, reencontramos nosso carro de apoio, recarregamos as energias com uma refeição reforçada e nos preparamos para a etapa final: a chegada a Atins.


Dia 6 – Tutóia até Atins

Esse é o grande dia. A última grande travessia da trip.
São mais 75 km de downwind, mas curiosamente é um dos dias menos cansativos. Isso porque a direção do vento nessa região é simplesmente perfeita, empurrando a galera no ritmo certo, quase sem esforço.

Depois de tantos dias de velejo, todos já estão mais treinados e confiantes, e a sensação é de fluir pelo mar como se estivesse “Andando tão rápido como se tivesse de patins”.
O trajeto é emocionante: passamos por paisagens cinematográficas, praias praticamente intocadas, e a cada quilômetro a expectativa cresce até a chegada triunfal em Atins, a porta de entrada dos Lençóis Maranhenses.

É arrepio garantido — um daqueles momentos que ficam gravados pra sempre na memória.


Dia 7 – Retorno de carro até Preá

Encerramos a expedição retornando de carro, atravessando os estados e revisitando mentalmente cada pedaço dessa jornada épica.


Viagem Estendida – A recompensa do velejador

Para quem tiver mais alguns dias disponíveis, recomendamos estender a experiência e explorar ainda mais o Maranhão.

Dia 7b – Atins até as lagoas dos Lençóis Maranhenses

Com uma caminhonete local, seguimos até a famosa Lagoa da Pininga, dentro do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses.
É um dos lugares mais surreais do planeta: dunas brancas a perder de vista, com lagoas de água doce cristalina entre elas. Um cenário digno de National Geographic, onde velejar ou simplesmente mergulhar já é algo de outro mundo.


Dia 8b – Lagoa de Santo Amaro

Fechamos a jornada com chave de ouro em Santo Amaro do Maranhão, outro ponto de entrada dos Lençóis.
A Lagoa de Santo Amaro é menos turística que as famosas de Atins e Barreirinhas, o que garante uma atmosfera ainda mais preservada e autêntica.
O acesso pode ser feito tanto de 4×4 (atravessando trilhas de areia) quanto de barco, o que já faz parte da aventura.

E aqui temos duas possibilidades incríveis:

  • Velejar na lagoa azul-turquesa, em meio a dunas imponentes.

  • Ou ainda, para os mais animados, realizar um downwind único dentro da própria Lagoa de Santo Amaro. Essa experiência é surreal: velejar passando por vacas, bois, porcos e outros animais típicos da região, em um contraste divertido e inesperado que deixa qualquer um de boca aberta.

É uma forma completamente diferente de encerrar a trip, com risadas, boas lembranças e a certeza de que vivemos algo único no mundo.


E aí, bora? 

Essa kitetrip é muito mais que uma viagem de kitesurf.
É uma expedição cultural, esportiva e espiritual, que une vento, mar, rio, dunas, gastronomia, comunidades e amizade.
É sobre esforço, conquista e recompensa. Sobre descobrir cantinhos secretos do litoral brasileiro e viver a plenitude de velejar em harmonia com a natureza.

Nossa ferramenta principal ao longo da travessia é a prancha bidirecional (twintip). Ela nos permite alcançar altas velocidades, pular ondas quando necessário, velejar em águas bem rasas graças ao tamanho reduzido das quilhas e ainda contar com a confiabilidade de um equipamento que não vai quebrar no meio da jornada.
Por outro lado, para os amantes do kitewave, também não faltam oportunidades: em vários trechos encontramos direitas perfeitas, ideais para brincar quase uma tarde inteira surfando de kite.

 

Quem já viveu sabe: é difícil colocar em palavras. Mas é impossível esquecer.